Galinheiro das Galinhas Caipiras de Dona Francisca |
Em uma visita ao
Assentamento São Francisco II, município de Cachoeira dos Índios, Alto Sertão
Paraibano no ultimo dia 05 de dezembro, conhecemos a família do seu João
Monteiro e Dona Francisca Monteiro, assentados da Reforma Agraria desde 1998.
Horta da família durante a estiagem |
Seu João nos relatou o
quanto a vida era difícil antes de ser assentado. Pai de 13 (treze) filhos
trabalhava na ‘roça de meia’ (metade da produção era para o dono da terra).
Dona Francisca relembra que precisava ir a cidade para trabalhar de doméstica
nas casas dos outros, sem saber nem quanto iria ganhar.
Mas hoje, a vida de Seu
João e Dona Francisca é outra, os filhos saíram mundo afora em busca de
trabalho. Apenas o mais moço, Sebastião Monteiro, permanece ao lado dos pais.
Ele diz que preferiu ficar a se aventurar atrás de emprego no corte de cana e
lembra que quando é tempo de inverno eles produzem muito no lote de Produção,
mas que o quintal produtivo é quem garante o alimento farto e saudável na mesa
da família.
D. Francisca orgulhosa dos tomates cereja |
Dona Francisca participa
ativamente de tudo e não arredou o pé durante a entrevista, nos contando o
quanto é feliz cuidando daquele quintal. Ela lembra que nesse período de
estiagem o marido e o filho participam mais ativamente do cuidado do quintal,
mas que quando eles estão no lote de produção nos anos de inverno, ela é quem
cuida do quintal, visto que o mesmo fica reduzido com o açude cheio, mas as
galinhas é ela quem cria e nos mostra sua criação que é dividida em galinhas de
capoeira e galinhas caipiras.
E foi quando
Dona Francisca nos mostrava seu galinheiro que o Técnico em Agropecuária que
acompanha o assentamento, Ricardo Nunes, percebeu que o recém construído
galinheiro das galinhas caipiras tinham algumas observações a serem feitas. O
técnico detectou que a família estava desperdiçando ração, pois existia além
dos 3 comedouros suspensos, outros três colocados diretamente no chão. O
técnico então orientou que deixasse apenas os comedouros suspensos e que
colocassem os mesmos em uma altura equivalente ao dorso da ave e que
suspendesse também os bebedouros e que duas vezes ao dia lavasse os mesmos.
O galinheiro das galinhas capoeira |
Segundo Ricardo, os três
comedouros são suficientes para as 100 (cem) galinhas caipiras que a família
cria em sistema de confinamento e a higienização dos bebedouros vai diminuir o
risco de uma epidemia.
A conversa foi se
alongando e fomos visitar a horta de
Dona Francisca. Lá tem pimentão, alface, cebolinha, coentro, pimenta de cheiro,
tomate cereja, além de plantas medicinais e muitas frutas. D Francisca afirma
que se sente muito bem produzindo alimentos orgânicos, pois além de se
alimentar saudavelmente, ainda tem a consciência tranquila que o excedente que
vende é produto de boa qualidade, livre de veneno.
Sebastião, entusiasmado,
comenta o quanto produzem no lote de produção quando tem inverno bom. “Milho,
feijão, sorgo, capim para a criação, só precisa chover para produzirmos muito. Hoje
temos umas cabecinhas de gado, pois devido à estiagem fica difícil alimentar, mas
mesmo assim, produzimos nossa manteiga, queijo e nata”. Ele relembra que quando
o açude está cheio a família cria peixes em tanques de rede. “Hoje o peixe é só
para alimentação, mas os tanques estão aqui esperando as chuvas para voltarmos
a criar peixes”, conclui Sebastião.
Seu João fala com orgulho
do rebanho de ovelhas e dos porcos que cria. Nos mostra as matrizes e fala
sobre o rebanho de vacas que tinha antes da estiagem. “Era uma vacada bonita,
trinta cabeças, hoje temos oito que vão ficar de semente”.
Quintais
Produtivos:
Segurança alimentar e Desenvolvimento Sustentável
Os quintais são formas
antigas de manejo da terra, consistem em uma combinação de espécies florestais,
agrícolas, medicinais e ornamentais, associados, muitas vezes, à pequena
criação de animais domésticos e sua contribuição é grande para a segurança
alimentar e para o desenvolvimento da agricultura sustentável.
No Brasil, quintal é o
termo utilizado para se referir ao terreno situado ao redor da casa, definido,
na maioria das vezes, como a porção de terra próxima à residência, de acesso
fácil e cômodo, na qual se cultivam ou se mantêm múltiplas espécies que
fornecem parte das necessidades nutricionais da família, bem como outros
produtos, como lenha e plantas medicinais (BRITO e COELHO, 2000).
Nos quintais produtivos,
verifica-se a produção de frutas, hortaliças, batata doce, macaxeira e plantas
medicinais. Assim, os quintais produtivos funcionam como “despensas naturais”,
onde as famílias podem recorrer fácil e cotidianamente para o preparo das
refeições diárias (OKLAY, 2004), contribuindo assim, para segurança alimentar e
nutricional, a geração de renda a partir da venda do excedente e ainda para
preservação da agrobiodiversidade.
Verifica-se que a produção
de alimentos e criação de pequenos animais nos quintais é desenvolvida, em sua
maioria pelas mulheres. Neste sentido, constata-se que seu trabalho contribui
de maneira significativa para segurança alimentar e a economia local, apesar de
seu trabalho como produtoras manter-se invisibilizado.
Os dados permitem ponderar
que o fortalecimento da agricultura familiar através de projetos de reforma
agrária constitui-se numa alternativa eficaz para combater a pobreza e a insegurança
alimentar que hoje atingem uma grande parcela da população brasileira, principalmente
a rural.
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