O Seminário Internacional: “A
Agroecologia no Mundo e a Encíclica Ecológica”, aconteceu na tarde da última
quinta-feira, 03 de setembro, no Auditório do Centro de Extensão José Farias da
Nóbrega, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). O evento foi
realizado pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e a Agricultures
Network o tema: é referência
à encíclica Laudato Si’, primeira de autoria do Papa Francisco, conhecida
como a Encíclica Ecológica.
O evento contou com a
participação de cerca de 200 pessoas, entre pesquisadores, estudantes e
professores da temática, representantes de entidades de assessoria e
organizações de base que integram a Articulação do Semiárido Paraibano (ASA
Paraíba) a exemplo da Central das Associações dos Assentamentos do Alto Sertão Paraibano
- CAAASP que foi representada por Francisco Máximino e Anchieta Assis. O
seminário também contou com convidados internacionais.
O seminário foi composto por dois
painéis, o primeiro deles foi “A Agroecologia no Mundo: avanços e perspectivas”
e teve como expositores: Mamadou Bara Guèye (IED-Afrique – Senegal), Komaravolu
Venkata Subrahmanya Prasad (AME Foundation – India), Edith van Walsun (Ileia –
Holanda) e Teresa Gianella-Estrems (ETC Andes – Peru) como convidados
internacionais e Rogério Neuwald (Secretaria Geral da Presidência da República,
coordenador da Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica – Cnapo) e
Gabriel Bianconi Fernandes (AS-PTA Rio de Janeiro).
Os convidados estrangeiros
ajudaram a traçar um panorama atual da agroecologia nos continentes
latinoamericano, europeu, asiático e africano. Em sua fala, Teresa
Gianella-Estreams, do Instituto Ecologia, Tecnologia e Cultura dos Andes (ETC
Andes), do Peru, falou sobre os desafios da agroecologia na América Latina. Ela
afirmou que paradoxalmente ao grande avanço e reconhecimento da agroecologia na
região e inclusive com o lançamento de políticas públicas de agroecologia em
países como o Uruguai e o Brasil, todos os governos da região tem optado pela
monocultura para a venda de commodities, pois isso gera divisas para os países.
A pesquisadora ressaltou ainda os desafios diante dos organismos geneticamente
modificados, os transgênicos, e reafirmou que a agroecologia é o caminho para
construir a sustentabilidade do planeta: “A agroecologia não é só um reencontro
com o passado, mas uma lente que nos permite ver o futuro”, disse.
Já Edith van Walsun, do Ileia da
Holanda, um centro de aprendizado da agricultura sustentável, afirmou que a
Europa se encontra na atualidade em uma verdadeira encruzilhada do ponto de
vista da agricultura: “Não estamos nem aqui e nem ali, temos um foco na
modernização da agricultura, com bolsões de agroecologia. O termo mais
dominante é o controle, vamos controlar o solo, a água. Mas temos experiências
contrastantes, existe um novo fenômeno, de jovens que nunca trabalharam na
agricultura estarem voltando a viver no campo, pensando em maneiras ecológicas
de produzir. É preciso desconstruir a visão de que a agroecologia é uma
proposta atrasada, inviável para a Europa”, afirmou.
Rogério Neuwald, coordenador da
Cnapo, relembrou o processo de construção da Política Nacional de Agroecologia
e Produção Orgânica (PNAPO) como uma conquista da sociedade, à partir da pauta
construída durante a Marcha das Margaridas de 2011. O gestor apresentou ainda
dados do investimento governamental a partir desta política a exemplo dos
projetos Ecoforte, de apoio a redes de promoção da agroecologia. Ele listou
ainda desafios para a consolidação da agroecologia como: a superação do falso
dilema entre o saber científico e o popular; a construção de planos estaduais;
pensar em tecnologias que não gerem dependência dos agricultores; estruturação
dos ministérios e a elaboração do segundo Plano Nacional de Agroecologia e
Produção Orgânica (Planapo II), entre outros.
Gabriel Fernandes da AS-PTA,
falou sobre o problema dos ciclos econômicos dependentes da superexploração dos
recursos naturais, pois eles geram fortes contradições como o avanço em
territórios indígenas e de outros povos tradicionais, o que acaba gerando
mudanças na legislação para permitir projetos como o do avanço da mineração,
por exemplo. Gabriel alertou ainda para a necessidade de manter a luta para
seguir avançando com a agroecologia: “Aqui no Brasil vivemos a contradição de
que o mesmo governo que tirou o país do mapa da fome, foi o que mais investiu
no agronegócio, numa tentativa de convencer a sociedade de que só uma
agricultura especializada vai ser capaz de alimentar a população. Isso mostra
que conquistar uma política pública não é suficiente, precisamos manter a luta
para impedir retrocessos”. Após o primeiro painel, foi aberto um espaço para
perguntas ou intervenções da plateia.
Encíclica Ecológica - Após
esse momento, foi iniciado o segundo painel: “Os conteúdos e significados da
Encíclica Ecológica”, com a exposição do professor Guilherme da Costa Delgado
do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea, e consultor da Comissão
Brasileira de Justiça e Paz. O painelista iniciou afirmando que esta encíclica,
um documento com 70 páginas e seis capítulos, resgata uma preocupação com a
saúde e salvação planetárias, diante da constatação de que o equilíbrio cósmico
planetário está seriamente comprometido: “O Papa está muito consciente de que,
com o nosso modelo de desenvolvimento socioeconômico, não só o planeta está em
risco, mas a humanidade. Talvez o planeta resista, mas a humanidade, esta sim,
corre risco”. Segundo o estudioso, o objetivo imediato do documento é
influenciar os líderes mundiais na próxima conferência do clima, para que os
chefes políticos adotem uma política e assumam metas imediatas de redução do
impacto ambiental. Ainda segundo o palestrante, o documento incorpora
contribuições importantes de teólogos ecologistas como Leonardo Boff, que
recolocam a natureza como um dom e não como um produto do trabalho humano, o
que nos daria a responsabilidade de cuidar e se integrar a ela e não a dominar.
Guilherme Delgado lembrou ainda
que o documento incorpora linhas de ação, na perspectiva de ver, julgar e agir
em vários níveis. “Não bastam ações punitivas, é preciso uma mudança de
mentalidade, de paradigma civilizatório, que não virá de uma ciência única como
a economia ou a biologia. Iniciativas como a deste seminário vão neste
sentido”, disse. Ary Sezhyta, do Serviço Pastoral do Migrante, ligada à ASA
Paraíba, destacou que a encíclica ecológica nos convida a olhar a natureza como
um sujeito portador de direitos: “Será que chegaremos um dia ao ponto de, por
exemplo, usar os mecanismos do direito para processar uma empresa por agredir a
natureza ao usar agrotóxicos?”, questionou.
Roselita Vitor, liderança do
Polo da Borborema, lembrou a contribuição que os agricultores familiares têm
tido no sentido de restaurar o equilíbrio cósmico: “Ouvindo estas palavras aqui
não posso deixar de me lembrar das muitas famílias agricultoras como a de seu
Luiz Souza e a de dona Eliete, no Curimataú de Solânea, na Paraíba, que à
partir do seu trabalho e do seu modo de viver tem dado uma enorme contribuição
no sentido de construir um mundo melhor”, finalizou.
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